Julia Jackson, mãe de Jacob Blake Jr — Foto: Kamil Krzaczynski / AFP Photo
Julia Jackson, mãe de Jacob Blake Jr — Foto: Kamil Krzaczynski / AFP Photo
A família de um homem negro baleado por um policial branco no último fim de semana pediu calma nesta terça-feira (25), ante o aumento da revolta nos Estados Unidos frente ao novo caso de violência policial contra a comunidade negra, que reacendeu os protestos contra o racismo.
“De verdade, precisamos apenas de orações”, disse Julia Jackson sobre o ataque a seu filho Jacob Blake, que levou sete tiros da polícia no último domingo (23) diante dos três filhos. “Enquanto caminhava por esta cidade, observei muitos estragos. Isto não reflete o meu filho, nem a minha família. Se Jacob soubesse o que está acontecendo, a violência e destruição, teria muito desgosto”, afirmou Julia em entrevista coletiva.
Sinalizadores perto de um veículo da polícia do condado de Kenosha — Foto: Brendan McDermid / Reuters
Sinalizadores perto de um veículo da polícia do condado de Kenosha — Foto: Brendan McDermid / Reuters
Com a tensão ainda latente após a morte de George Floyd, cidadão negro morto por um policial branco, a cidade de Kenosha, em Wisconsin, foi cenário de confrontos pela terceira noite consecutiva. Os protestos começaram após a divulgação, no último domingo, do vídeo que mostra a agressão a Blake.
Pouco depois da entrada em vigor do toque de recolher estabelecido entre 20h de segunda-feira (24) e 7h de terça, policiais da unidade antidistúrbios usaram gás lacrimogêneo contra os manifestantes. Os policiais responderam aos manifestantes que lançavam garrafas d’água e fogos de artifício em direção aos agentes.
Horas antes, centenas de manifestantes gritaram diante dos policiais: “Sem justiça, não há paz!” e “Diga o nome dele, Jacob Blake”.
A vítima estava internada, após passar por uma cirurgia no hospital de Milwaukee, a cerca de 40 km. O advogado Benjamin Crump, que também representa a família de George Floyd, informou que “o diagnóstico médico é de que Blake está paralisado”.
Manifestantes se protegem atrás de uma lixeira em Kenosha, Wisconsin, enquanto a polícia atira gás lacrimogênio — Foto: Kamil Krzaczynski / AFP Photo
Manifestantes se protegem atrás de uma lixeira em Kenosha, Wisconsin, enquanto a polícia atira gás lacrimogênio — Foto: Kamil Krzaczynski / AFP Photo
Vídeos contra a impunidade
Como ocorreu com George Floyd, afro-americano de 46 anos que morreu asfixiado em 25 de maio quando um policial branco ajoelhou por vários minutos em seu pescoço, a tentativa de detenção de Blake foi filmada por uma testemunha e o vídeo viralizou nas redes sociais.
“O que justifica esses tiros? O que justifica fazer isso na frente dos meus netos?”, protestou o pai de Blake, também chamado Jacob, em entrevista ao jornal “Chicago Sun Times”. “Ele está paralisado da cintura para baixo.”
Jacob Blake (à direita), em foto de 2019 tirada com uma prima. Ele levou ao menos 7 tiros em uma ação policial no Wisconsin, nos EUA — Foto: Courtesy Adria-Joi Watkins via AP
Jacob Blake (à direita), em foto de 2019 tirada com uma prima. Ele levou ao menos 7 tiros em uma ação policial no Wisconsin, nos EUA — Foto: Courtesy Adria-Joi Watkins via AP
Autoridades afirmaram que os dois policiais envolvidos foram suspensos e uma investigação foi iniciada após os distúrbios de domingo, quando vários veículos foram incendiados e os arredores de um tribunal foram destruídos.
“Se eu matasse alguém, seria condenado e tratado como um assassino. Acho que o mesmo deveria acontecer com a polícia”, disse Sherese Lott, de 37 anos, que expressava sua indignação nas ruas de Kenosha, cidade de 170 mil habitantes localizada às margens do lago Michigan.
A polícia de Kenosha rechaçou as críticas e pediu que se aguarde os resultados da investigação feita pelo Departamento de Justiça de Wisconsin.
O presidente americano, Donald Trump, não comentou o caso. Já o candidato democrata à Casa Branca, Joe Biden, considerou que o racismo representa “uma crise de saúde pública” e exigiu uma investigação a fundo do ocorrido.
Os democratas pediram à Legislatura do estado, controlada pelos republicanos, que discuta o pacote de projetos apresentado no começo do ano visando a uma reforma da polícia.