Supremacista branco australiano compareceu nesta quarta-feira (26) ao tribunal na Nova Zelândia para uma audiência do processo de ataques a mesquitas em Christchurch. Ele abriu mão do direito de falar — Foto: John Kirk-Anderson / AFP
Supremacista branco australiano compareceu nesta quarta-feira (26) ao tribunal na Nova Zelândia para uma audiência do processo de ataques a mesquitas em Christchurch. Ele abriu mão do direito de falar — Foto: John Kirk-Anderson / AFP
O autor dos ataques contra duas mesquitas na cidade de Christchurch, na Nova Zelândia, em 2019, abriu mão nesta quarta-feira (26) do direito de falar no processo em que é julgado pelo assassinato de 51 pessoas, depois de ouvir durante três dias os depoimentos de sobreviventes e parentes de vítimas.
Brenton Tarrant, que demitiu o advogado de defesa no início do ano, optou por não usar o direito de expressão no tribunal. A decisão surpreendeu muitos analistas, que temiam uma tentativa de aproveitar o momento para defender suas ideias extremistas. Para evitar a possibilidade, o juiz havia determinado restrições à cobertura da imprensa.
O supremacista australiano de 29 anos, acusado de 51 homicídios, 40 tentativas de assassinato e terrorismo pelos ataques contra as mesquitas, em 15 de março de 2019, pode ser a primeira pessoa condenada à prisão perpétua sem direito à liberdade condicional na Nova Zelândia.
Um advogado designado pela justiça fará uma breve declaração em nome de Tarrant na quinta-feira (27), antes do anúncio da sentença.
Ahad Nabi, que perdeu o pai, Haji Daoud Nabi, no massacre na mesquita de Al Noor, participa nesta quarta-feira (26) do 3º dia de julgamento em Christchurch, na Nova Zelândia — Foto: John Kirk-Anderson / AFP
Ahad Nabi, que perdeu o pai, Haji Daoud Nabi, no massacre na mesquita de Al Noor, participa nesta quarta-feira (26) do 3º dia de julgamento em Christchurch, na Nova Zelândia — Foto: John Kirk-Anderson / AFP
Acusações
“É um homem diabólico. Você matou meu filho e considero que é como se você tivesse matado toda a Nova Zelândia”, afirmou nesta quarta-feira Aden Diriye, pai de Mucaad Ibrahim, de três anos, a vítima mais jovem do ataque.
“Mas sua atrocidade e ódio não deram o resultado que esperava. Ao invés disso, uniu a nossa comunidade em Christchurch, fortaleceu nossa fé, aumentou a honra de nossas famílias e uniu a nossa pacífica nação”.
Diriye disse a Tarrant que deveria “saber que a verdadeira justiça está esperando você em sua próxima vida e será muito mais severa (que a prisão). Nunca perdoarei o que fez”, concluiu.
Hasmin Mohamedhosen, que perdeu o irmão, Mohamed, no massacre, chamou Tarrant de “filho do diabo” e afirmou desejar que “apodreça no inferno por toda a eternidade”.
Ahad Nabi, que teve o pai, Haji Daud Nabi, assassinado na mesquita de Al Noor, chamou Tarrant de covarde e disse que ele nunca deve ser liberado. “Enquanto você estiver na prisão, perceberá que está no inferno e que apenas o fogo o aguarda”, declarou.
Tarrant permaneceu impassível enquanto os sobreviventes e parentes das vítimas, membros da comunidade muçulmana, apresentavam seus relatos e falavam olhando em sua direção, alguns com revolta, pedindo justiça, e outros muito consternados.
O atentado
Foto de arquivo mostra policiais aguardam perto da mesquita Al Noor após tiroteio em Christchurch, na Nova Zelândia — Foto: Tessa Burrows / AFP
Foto de arquivo mostra policiais aguardam perto da mesquita Al Noor após tiroteio em Christchurch, na Nova Zelândia — Foto: Tessa Burrows / AFP
No início da terceira fase do julgamento, o promotor Barnaby Hawes contou que Tarrant chegou à Nova Zelândia em 2017. Ele morava em Dunedin, 360 km ao sul de Christchurch, onde acumulou um arsenal e comprou mais de 7 mil munições.
Dois meses antes dos ataques, ele viajou a Christchurch para observar os lugares. Usou um drone para filmar as entradas e saídas da mesquita de Al Noor, ao mesmo tempo que fez anotações detalhadas do trajeto até a mesquita de Linwood.
Em 15 de março de 2019, Tarrant dirigiu de Dunedin até Christchurch, equipado com várias armas semiautomáticas nas quais incluiu vários símbolos, além de referências às Cruzadas e a atentados recentes.
Ele estava com os carregadores repletos de munições e garrafas “para incendiar as mesquitas”, declarou Hawes. “Ele disse que lamentava não ter feito isso”.
Alguns minutos antes dos ataques, o australiano enviou seu “manifesto” de 74 páginas a um site extremista, avisou a sua família sobre o que pretendia fazer e enviou e-mails a várias redações com ameaças contra as mesquitas.
O massacre levou o governo a endurecer as leis sobre as armas e a intensificar a luta contra o extremismo na internet.