Há conflito entre a segurança digital e o conserto de eletrônicos?

Paulo Boaventura
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A Apple está envolvida em mais uma polêmica relacionada ao conserto de seus equipamentos. A empresa, que já deixou celulares parcialmente inoperantes por causa de reparos no botão “Home” do iPhone, agora está sendo acusada de impedir o funcionamento de celulares que tiveram a tela sensível ao toque substituída por centros de reparos não oficiais.

A empresa lançou uma nova atualização do iOS para remover a restrição, mas deixou o alerta de que telas não oficiais podem comprometer a qualidade visual ou outros aspectos do telefone.

No caso do botão Home, a empresa argumentou que não reconhecer os botões paralelos tratava-se de um recurso de segurança, visto que o botão também abrigava a lógica do TouchID, a função de reconhecimento de digitais do celular. Mas será que isso faz sentido?

A resposta para essa pergunta é relevante no momento, pois há uma lei sendo discutida no estado da Nova York, nos Estados Unidos, para obrigar que fabricantes de eletrônicos facilitem reparos. Infelizmente, a verdade é um pouco dura: qualquer alteração em um eletrônico tem potencial para diminuir a segurança do aparelho. Um chip “estranho” no celular teria potencial para capturar alguma informação de forma silenciosa — não importa se é o chip que processa os toques na tela ou o de reconhecimento biométrico.

Por outro lado, a maioria das pessoas não requer um grau de confiabilidade tão grande dos aparelhos eletrônicos. De fato, eletrônicos e computadores mais antigos careciam de qualquer proteção ou mecanismo para identificar o uso de chips diferentes do original. Alguns recursos de segurança mais recentes têm mudado esse cenário: a criptografia Bitlocker do Windows, por exemplo, exige ser reativada quando o Windows detecta mudanças na BIOS da placa-mãe, o que pode ocorrer com uma mudança do chip ou com uma mera atualização de software.

Também não há explicação para a atitude de Apple de prejudicar o funcionamento dos celulares em vez de notificar os consumidores para que cada um decida se o telefone celular ainda está confiável para ser usado.

Informações da Apple sobre atualização do iOS 11.3.1, que corrige não funcionamento do toque em ‘telas de substituição não originais’. (Foto: Reprodução)

No mundo real, longe da “teoria” dos ataques mais sofisticados possíveis, fraudes ou espionagem envolvendo alterações em microchips são uma raridade. Já a necessidade de substituir peças e realizar consertos — legítimos e seguros — é bastante rotineira. Um sistema de segurança não deve supor que a situação mais incomum (troca de chip para fins de espionagem) é a única possível explicação para o problema.

O uso de tecnologias que impeçam alterações no hardware de eletrônicos é certamente positivo e necessário para aqueles que precisam de equipamentos com o mais alto grau possível de confiabilidade. O Google, por exemplo, desenvolveu um chip de segurança chamado Titan para monitorar mudanças no hardware de seus servidores, analisando e identificando qualquer modificação nos chips da placa-mãe.

Mas, no fim, a escolha deve ser do consumidor. É positivo que a Apple tenha desenvolvido mecanismos para garantir a integridade do hardware, mas isso deve ser sempre usado em favor do consumidor. Outros fabricantes podem e devem desenvolver a mesma tecnologia, desde que não para impedir reparos e diminuir a vida útil dos aparelhos.

Imagem: Placa lógica de eletrônico (Foto: Stockers9/Freeimages.com)

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